Creio que a melhor forma
é usar números oficiais e, pegando no país (Rep. Checa, aprox. 10 milhões de
habitantes), que é apontado como referência Europeia no controlo da propagação
do Covid-19, pela obrigatoriedade do uso, sendo essa a medida que,
alegadamente, lhes faz a diferença e comparando com outros dois, Noruega,
aprox. 5 milhões e Austrália, aprox. 25 milhões, onde, até à data, isso não
acontece, não encontro números muito diferentes.
Utilizo estes países na comparação porque aplicaram, excepto no que diz respeito à questão das máscaras, para uso generalizado, medidas de contenção muito semelhantes (podem ver aqui: https://www.bsg.ox.ac.uk/research/research-projects/oxford-covid-19-government-response-tracker) onde (resumo no quadro abaixo), para caso da Rep. Checa e Noruega, regista-se uma diferença, entre eles, de 1 a 3 dias, sendo que, a Austrália, até demorou mais, entre 3 a 12 dias, para as implementar (encerramento das escolas, locais de trabalho, eventos públicos, deslocações internas ou encerramento de fronteiras), consoante a medida.
De notar ainda que a
Austrália só começou a aplicar as medidas acima, 51 dias após o primeiro caso
(25-01-2020), a Noruega 15 dias após o primeiro caso (26-02-2020) e a Rep.
Checa 10 dias após o primeiro caso (01-03-2020).
Apesar da utilização massiva de máscaras, não utilizo a Coreia do Sul (aprox. 51 milhões) na comparação porque implementou acções de mitigação consideravelmente diferentes, desde o início (primeiro caso a 20-01-2020), com medidas fortíssimas de isolamento dos positivos, quarentena do respectivos contactos, mais de meio milhão de testes (actualmente, o 6º país a nível mundial) e mais de 300 mil testes realizados, após os dois primeiros meses, afastamento social e uma monitorização apertada, como se pode ver neste relatório do Korea Centers for Disease Control and Prevention (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7045882/)
Voltando
os números dos três países comparados:
O gráfico abaixo considera o número total de
casos, com escala logarítmica.
Neste momento (12-04-2020), temos os três países com um número total de casos muito aproximado, assim como uma curva de crescimento muito semelhante, a partir dos primeiros 100 casos, apesar de se notar, ultimamente, na Rep. Checa, um maior número de casos diários.
Finalmente e dos dados mais importantes, pois é a única forma de obter o número de casos, o gráfico abaixo representa os testes realizados, a partir do dia 1 de Março, onde se nota que, apesar de ter começado a testar mais cedo, só agora é que a Rep. Checa atinge os mesmo valores absolutos que a Noruega e talvez, por isso, a identificar agora um número de casos superior ao dos outros dois países.
Não deixa de também ser importante, a quantidade de testes por 1.000 pessoas, dado que permite entender a cobertura de testes, relativamente à população global e aumentar o entendimento, tendo em vista a capacidade de contenção.
Posto isto, não encontro nenhum indicador
que leve a concluir que a utilização generalizada e obrigatória de máscaras
tenha levado a melhores resultados do que as medidas de contenção, também já
adoptadas em Portugal. O próprio estudo da ECDC (a pedido de várias famílias),
publicado a 08-04-2020 (https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/using-face-masks-community-reducing-covid-19-transmission) não adianta nada de novo ao que a OMS (e
a DGS) diz e cheio de “ainda não é conhecido”, “pode ser considerado” e “deve
levar em consideração” e que, para além da distância social, etiqueta
respiratória e lavagem meticulosa das mão, deve ter-se especial atenção quanto
a evitar tocar na face, nariz, olhos e boca.
Estas medidas sim, são as que se estão a mostrar, de alguma forma, eficazes para a contenção do vírus e a ajudar para que os sistemas de saúde não entrem em colapso.
E a pergunta que fica é: porque é que o uso generalizado e obrigatório de máscaras ainda não está a ajudar a República Checa, relativamente aos países comparados?
